domingo, 25 de agosto de 2013

Batalhao 774, Companhia 771 - (6) ANGOLA


Quando chegamos ao porto de Luanda, percebemos finalmente que Angola não era uma terra atrasada e entendemos a razão da guerra - tanta beleza só podia gerar inveja...




A Baía de Luanda, a Ilha do Mussulo, à noite era uma coisa do outro mundo...





O Porto de Luanda em 1965 em Angola era moderno e a Baía de dia era também um sonho... 


Chegada e partida do Grafanil…um entreposto militar...


No Grafanil, dormimos ao relento em burros de campanha durante mais ou menos uma semana e éramos alimentados por marmitas que íamos buscar aos fogões de campanha - todos desejávamos a saída dali, porque para além de não ser um local simpático, a estadia era dura atendendo ás condições higiénicas que eram muito más...a maior parte, passava a noite na conversa, na garotada a fumar e a beber cerveja...nessa altura também fumava...por estas alturas os aerogramas ou papa milhas, que eram gratuitos, voaram para o "puto" aos milhões - por esta altura pareceram as madrinhas de guerra...

Finalmente a hora da partida chegou e o movimento das viaturas “berliet” destinadas a transportar todo o tipo de material, os jipes e os unimogues para os pelotões que tinham na caixa da viatura uma estrutura em madeira que permitia ao soldado estar sempre voltado para a picada de ambos os lados, alinhou-se ao longo da estrada e a coluna lentamente colocou-se em marcha – enquanto a estrada era sofrível no alcatrão, tudo se ultrapassava com normalidade, embora se notasse aqui e ali uma tensão nos olhares que exprimiam um bom sintoma - estavam todos em alerta máxima e isso era o ideal – todos estávamos preocupadíssimos e isso era essencial para se enfrentar o que não conhecíamos – como “cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém” e “ o seguro morreu de velho e o desconfiado ainda hoje é vivo”e embora pudesse ir na cabine, escolhi a caixa duma berliet que ia a meio da coluna que na altura ia atafulhada com todo o tipo de material – foi uma solução que sempre escolhi, porque sempre pensei que, sendo um interveniente pertencente à administração militar e não tendo que fazer parte de qualquer estratégia dos 4 pelotões da Companhia, sabia que a cabine das viaturas era o alvo dos primeiros tiros para obrigar a coluna a parar, iniciando-se dessa forma a tática de colocar na “zona de morte” o maior número possível de viaturas – percorri milhares de km no Norte de Angola na Província do Zaire, porque sendo vagomestre da companhia tinha de fazer centenas de km, algumas vezes, duas vezes por semana para reabastecer de alimentos a Companhia e aos quais nunca me neguei, podendo fazê-lo – outras vezes o inimigo escolhia o jipe com a breda, porque sabia que daí vinha a principal resistência à sobrevivência na emboscada… também os militares instalados nos unimogues e que tinham visão para os dois lados eram alvos a abater, porque estes e reagindo como deveria ser ao primeiro sinal de perigo, saltariam para as bermas e colocariam em cima do inimigo as granadas defensivas que transportavam no cinto e por isso e estrategicamente o inimigo procurava neutralizar os pontos fortes da coluna…como a coluna tinha pontos fracos e mais ou menos fortes, sempre pensei que a penúltima berliet seria o local mais seguro até porque a fechar a coluna ia sempre um uinimogue com vários combatentes prontos a entrar em ação e que podiam ficar fora da “zona de morte” rodear rapidamente o inimigo por detrás, anulando ou diminuindo mesmo, a intensidade do ataque e permitindo reação às tropas, entretanto apanhadas na zona, onde os guerrilheiros inimigos estavam emboscados e à espera duma oportunidade… a palavra “emboscada” causava medo e suores frios e não raramente, colocava o combatente em sentido…eu tinha estudado e ouvido com muita atenção tudo o que dizia respeito a emboscadas e sabia que essa era uma situação a evitar e que, quando acontecesse, teria de haver uma escapatória...

Foi no Grafanil que tomamos conhecimento com os “ papa-léguas” ou aerogramas gratuitos e isso foi uma boa novidade para toda a gente - escrevíamos para todos os lados e arranjamos “madrinhas de guerra” que ajudavam a mitigar o principio da saudade...

continua nr. 7

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